Quando estou a me perguntar:
O que me faz… é delírio.
Meu olhar ao campo é um lírio,
Comente, serpente —
Astuta, que não se arrepende.
Do que você entende?
Amas a mim, pois queres de mim.
Na soberba da safadeza,
Tentas me amargar de certezas.
Nas olheiras do meu cansaço,
Queres meu braço.
No orgulho que me disfarço,
Faz de mim um palhaço.
Louco de andar turbante,
De olhar penetrante,
De calma abundante — deprimindo…
Causa um implante
De mentes comoventes,
Empáticos a um lunático.
Me socorres da serpente,
No sermão, me dás um fardo.
Quem me abate… o Estado.
Estou aqui como colocado,
Parado, inerte,
Amargurado de quem me perverte.
Satisfeito em quebrar um brinquedo:
O doce e ardente afeto
Que nada mais é discreto.
Me envergonha em ser esperto —
Preferia discreto.
Preferia desperto
A quem me inquieto.
Me ver por dentro: a vergonha.
No devaneio, o sonho viajante e insano.
Desperto em aflição —
Da vergonha, comoção.
Olho a claridade do dia,
Na janela, o céu.
É mais um dia de agonia?
Ou alegria de família?
Ou de mente vadia?
Levando um conto, tentando um encontro,
Fazendo um conto.
Será meu desconto?
Marcarei os pontos.
Na costura madura
Da ferida perdida,
Sofrida em linhas lida.
Trate meu abate
Do sustento de um animal.
Mastiga meus dentes,
Sacia a alegria da fome vestida.
A macia frieza
Do jejum de beleza.
Perfeita moleza
De quem corre… e ocorre.
O fôlego não morre —
Exausto, me levanta e corre.
Está longe de mim o tão perto a sentir.
No caminho, dirijo meus passos.
Fundir do aço o espaço:
Meus calçados,
Amarro dos cadarços um laço.
Sola de aço fundido,
Uma ferradura de sentido.
Do caminho estendido,
O mais perto destino.
Cobrindo a razão,
Indo de mão à contramão.
Do teor, um pão —
Quase na boca de um cão,
A fome sacia a emoção.
Confiança me descaça.
Ansiedade de um coração,
Partido do sono —
A lucidez pega fogo.
Coração em chamas,
Bate em bomba,
Explode e comove:
O desejo, o apego —
Bate forte o desespero.
Nos olhos, um aguaceiro.
A quem sopre aflito:
É o desespero.
Não estou vendo o que quero,
Me vendendo o que não tenho,
Me fazendo, da cegueira,
Alguém — de qualquer maneira.
Levante as bandeiras!
O mastro sobe ao acaso —
Uma obrigação sem noção.
Saem soldados com fuzil ao caixão.
De uma noção,
Corri dela na contramão.
Me livrou da besteira
Uma enorme bandeira,
Da vida assistida,
De muitas — rasgadas e perdidas.
Quem me deu a vida,
Para que eu diga:
“Vale a mim esta razão?”
Obrigação sem mão.
Vou à guerra de camisa amarela,
Jogo desatento — eliminado.
Fui alegre e atento.
Voltando, bate o vento,
Querendo virar instrumento.
Soprando e oco, ao ouvir o encanto.
De quanto em quanto,
Sobe o tom.
No entanto, ecoa seu canto.
Batendo o instrumento,
O arqueiro soprado pelo vento —
Do coração desperto,
Ando junto em direção
Ao que me desperto.
Levantando a bandeira,
Faço juízo, minha certeza.
Entoa as ondas:
O mar é uma sinfonia
Que despeja alegria.
Da harmonia, vento —
Voa em mim, desperto.
Do aperto suspeito,
Do suspeito inocente.
Sopra fresco e contente
Para longe, a serpente.
Para uma mente reluzente —
A clareza.
Da janela, o meu dia.
Das notícias cruéis,
De bandeiras e fuzis.
Pessoas morrem por triz…
Olha aqui, a me perguntar:
Onde está?
Aqui, bem diante desse mar.
Da janela, olhar o céu claro.
Não há bandeiras a me perturbar.
Olha em meus olhos,
Das janelas de pixels,
A me consternar.
E eu, nada a falar
Do inimigo invisível.
Nos ouvidos, vim soprar:
“Serpente, estás contente?”
— Não!
Pois sei que a mim só quer devorar.
Por isso, saí a andar —
E na mente, guerrear.
De ideias solícitas,
De sentido, arma mista.
Ponho a mim a correr,
Mesmo sem fôlego.
Um destino com alma de aço,
Como o pensamento de palhaço
A quem se forja
Na coragem.
Se forma na força:
As palavras.
Nos ouvidos,
A música direcionando
Para dizer que, no fim,
A chegada
É a casa de Deus.
Estás a me receber
Como um ente de muito longe,
Precisando de toda estadia,
De todo cuidado:
Um morador,
Não um convidado.